sábado, 3 de fevereiro de 2007

FUNKADELIC - MAGGOT BRAIN (1971)
Equilíbrio exato entre o funk e a psicodelia.


Conheci o som do Funkadelic através do meu amigo/irmão Helton, de Sampa (que possui um blog bem legal). Até então, o que eu conhecia de funk resumia-se a James Brown, ao grupo War, por conta dos álbuns gravados com Eric Burdon e a uma ou outra trilha bacanuda dos anos 60 e 70, como “Shaft”, do Isaac Hayes. Tirando isso, ouvia uma ou outra coisa, mas sem muita atenção. O dia em que ouvi o álbum “Maggot Brain” passei a respeitar e a querer entender muito mais de funk e soul, tal a pancada que levei na minha área de associação sensorial a partir da audição do álbum. Porém, antes das impressões acerca do mesmo, faz-se necessário entender um pouco mais sobre a figura central envolvida no Funkadelic: George Clinton (tão genial quanto os já citados James Brown e Isaac Hayes). Tudo começa quando ele deixa a vida de cabeleireiro em Nova Jersey para tentar a carreira musical. O início foi com um grupo chamado Parliament (que originalmente se chamou The Parliaments, e possuía uma inspiração no clássico The Tempations), que durou 10 anos, de 1970 a 1980 e rendeu 11 álbuns da melhor qualidade, com destaque para “Osmium” e “Mothership Connection”. Contudo, o Parliament executava um funk no sentido mais tradicional, mais dançante. Querendo experimentar, o multi-meios George Clinton resolveu pegar a turma do Parliament (até mesmo pelo processo que a empresa de cigarros Parliament moveu contra George, por não querer estar associada a um grupo de soul music) e formar um outro grupo, com o nome de Funkadelic, no qual eles teriam uma possibilidade muito maior de experimentar (leia-se introduzir em suas músicas elementos psicodélicos). Após dois discos gravados em 1970, “Free Your Mind... And Your Ass Will Follow” e “Funkadelic”, em 1972 veio a obra-prima “Maggot Brain”, com apenas sete faixas, mas que se constitui em uma aula de black music, mas não só. Ali se misturam soul, funk, gospel, hard rock e psicodelia, demonstrando uma sucessão vertiginosa de ritmos que somente atestou a categoria do grupo. O álbum abre com uma das minhas canções preferidas não apenas do Funkadelic, do soul, do r&b, mas da música como um todo. A faixa que leva o nome do álbum (que se inicia com uma breve narração sobre a Terra), é uma viagem lisérgica-melancólica do guitarrista Eddie Hazel, de 10 minutos e 19 segundos, gravado em um único take, bom que se diga, que te abduz sem pena. Tenho certeza que você vai colocá-la para tocar várias vezes tal a forma como ela te atinge no peito e no espírito, te deixando à mercê daquelas fascinantes notas. Na seqüência vem “Can You Get to That”, que começa acústico para se transformar em um funkaço de primeira, daqueles que TEM que estar em qualquer coletânea funk que você cismar em fazer. Atentem-se para os vocais e backing vocais. De arrepiar!!! Com “Hit It And Quit”, o grupo escancara com todas as notas: “Sim, Jimi Hendrix, nós te adoramos!”. Toda conduzida por uma levada “hendrixiana”, destaca-se o órgão tocado por Bernie Worrell, lembrando, em alguns momentos, Jon Lord, do Deep Purple. Outra canção primorosa. "You And Your Folks, Me And My Folks", se submete ao R&B e ao gospel, com um batidão todo pontuado por um “yeah yeah yeah” de fundo. Canção para ouvir e sacudir os ossos. A quinta canção do álbum, “Super Stupid”, caso você a ouvisse no estilo cabra-cega, tenho quase certeza que o primeiro nome a ser verbalizado seria o do Red Hot Chilli Peppers. Sim, moçada, os caras eram “fodaços”, antecipando o que 20 anos mais tarde ficaria conhecido como funk metal, tão bem executado e divulgado pelos “californianos” dos Chilli Peppers. Não à toa, a banda de Flea e cia. chamou George Clinton para produzir o álbum “Freak Styley”, de 1985. A faixa seguinte é “Back In Our Minds”, com um baixo latejante e uma percussão tresloucada que martela, martela e martela... e martela, e nem por isso cansa, muito ao contrário. Tudo se encerra com “Wars of Armagedon”, talvez a faixa mais conceitual-lisérgica-viajante, mas nem por isso menos funk, ou melhor, um funk de respeito, com seus quase 10 minutos. Enfim, o fato do álbum ser composto por sete canções extremamente singulares entre si somado à capacidade de George Clinton e seus comparsas de colocarem para caminhar em uma mesma corda o funk e o rock psicodélico, em equilíbrio perfeito, fazem de “Maggot Brain” um álbum de referência não apenas para os amantes do funk, mas do rock, do soul, do blues, do jazz, enfim, da música em geral. Isso sem contar a capa: um cara de penteado black power com a boca escancarada, como que saindo do meio da terra, conceito que se explica na narração contida na faixa título: “A mãe terra está grávida pela terceira vez, vocês todos acabam de acertá-la (...) Vou ter que me levantar ou me afogar na própria merda”. Ah, o tal cara de black power com a boca aberta é Eddie Hazel, o responsável pelos dez brilhantes minutos da faixa “Maggot Brain”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Alexandre, vim te retribuir a visita que você fez ao Lágrima, na postagem do Funkadelic.
Apareça sempre por lá,para assim podermos estar trocando dicas de bons trabalhos.
Em breve, estarei voltando aqui para ver o seu trabalho com mais calma...
Gostei de ver o Muddy Waters, entre outros, por aqui.

Um abraço,