domingo, 4 de fevereiro de 2007



Esse é o terceiro disco da banda paulistana, que tem em sua formação Nasi (voz), Edgard Scandurra (guitarra e voz), Ricardo Gaspa (baixo) e André Jung (bateria). Gravado entre o fim de 1987 e começo de 1988, certamente é o melhor de todos os álbuns que o Ira! fez até hoje (embora tenha sido um dos mais incompreendidos e um fracasso de venda). Lançado após o sucesso de "Vivendo e Não Aprendendo" (esse sim, o disco mais vendido da banda, e que contava com canções como "Flores em Você" – que foi tema de uma novela da Rede Globo - "Envelheço na Cidade", "Dias de Luta" entre outras), o álbum "Psicoacústica" representou um giro de 180 graus e um enorme salto de qualidade e - principalmente - de versatilidade da banda. O próprio título dava pistas do que se poderia encontrar ali. Em "Psicoacústica" é que se encontram os primeiros flertes do Ira! com uma base mais eletrônica (que influenciou o trabalho solo de Edgard Scandurra e alguns álbuns posteriores da banda), misturada ao vigor de guitarras mais pesadas com elementos de percussão e violões. Além disso, há um grande amadurecimento em relação ao conteúdo das letras. O disco, ainda lançado à época do vinil, contém apenas 8 músicas que ocupam um pouco mais de meia hora, suficientes para construir um largo sorriso de satisfação após sua audição. É desse álbum uma das melhores canções do grupo (senão a melhor), "Rubro Zorro", que possui como ponto central a história de vida do Bandido da Luz Vermelha, um famoso marginal paulistano da década de 60. A canção, intensa pra caramba, e que apresenta samples do filme “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, se constitui em um vigoroso rock´n´roll costurado por violões no estilo flamenco. Nela o Ira! canta os possíveis desequlíbrios que podem advir a partir da influência de bens de consumo pelos meios de comunicação. "O caminho do crime o atrai como a tentação do doce. Era tido como um bom rapaz, o bom homem mau". Há ainda o visceral e paranóico "Manhãs de Domingo", a militante "Pegue Essa Arma", o samba/rap/punk/psicodélico "Advogado do Diabo", todo pontuado por uma percussão de pandeiro(!), as ácidas "Poder, Sorriso, Fama" e "Receita Para se Fazer um Herói". Como se não bastasse há o pop rock "Farto do Rock and Roll", uma canção desafogo, que critica a saturação do rock nacional dos anos 80 e justifica a busca por "outros sons, outras batidas, outras pulsações" a que o grupo de propôs. O disco termina com "Mesmo Distante", uma belíssima balada folk, uma das mais bonitas canções do Ira!. Psicoacústica é um álbum para ser ouvido com calma, saboreado, digerido, e não apenas uma única vez. Disco essencial, o principal da discografia do Ira! e um dos mairoes da história do rock nacional.
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Psicoacústica/1988/WEA
1. Rubro Zorro
2. Manhãs de domingo
3. Poder, sorriso, fama
4. Receita para se fazer um herói
5. Pegue essa arma
6. Farto do rock n'roll
7. Advogado do Diabo
8. Mesmo distante

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